Primeiro dinossauro conhecido completa 200 anos em 2024 

Reconhecidos facilmente na cultura popular, os dinossauros fazem parte do imaginário de crianças e adultos, cientistas e não-cientistas. O que poucas pessoas sabem é que a descrição formal e a nomeação do primeiro dinossauro conhecido pela ciência – o megalossauro – é relativamente recente e, em 2024, completa 200 anos. Atualmente, estima-se que existam mais de 1 mil espécies de dinossauros já descritas pela ciência, número esse que anualmente é ampliado. 

Hoje sabe-se que os dinossauros surgiram há mais de 233 milhões de anos e reinaram como a espécie animal predominante na Terra por mais de 167 milhões de anos, desde o período Triássico até o final do período Cretáceo. No entanto, cerca de 66 milhões de anos atrás, um evento global levou à extinção da maioria dos dinossauros, embora algumas espécies emplumadas tenham sobrevivido, evoluindo para o que conhecemos como aves. 

Representação atual do que é um megalossauro – Foto por Davide Bonadonna/Reprodução National Geographic 

Megalosaurus bucklandii 

William Buckland – clérigo, geólogo e paleontólogo inglês (1784-1856) – Imagem por Biblioteca Nacional do País de Gales/Reprodução Wikimedia Commons 

O anúncio ao mundo daquilo que hoje se compreende como um dinossauro foi feito em 1824 por William Buckland, e é um marco significativo na história da Paleontologia, quando essa ciência sequer tinha esse nome. Na ocasião, o naturalista ressaltou suas conclusões em um artigo científico que apresentou à recém-formada Sociedade Geológica de Londres. Buckland, professor de Geologia na Universidade de Oxford, nomeou a criatura cujos fragmentos foram encontrados na Inglaterra em 1676 e 1815, baseando-se na mandíbula, vértebras e outros ossos. O achado inicialmente confundido com parte de um elefante, revelou-se posteriormente como um fragmento do fêmur de um megalossauro.

O fêmur original do megalossauro foi perdido. O material é conhecido hoje pelas ilustrações do livro História Natural de Oxfordshire (1677), de Robert Plot – Foto por Museu de História Natural de Londres. 

Designado por Buckland de “Megalossauro” (“Lagarto gigante”) devido ao seu tamanho imponente, o professor acreditava que essa criatura fosse um carnívoro colossal, estimando seu comprimento em mais de 12 metros. Sua interpretação dos dentes sugeriu uma dieta carnívora, enquanto suas conjecturas sobre o estilo de vida anfíbio adicionaram um aspecto intrigante ao fóssil. Naquele momento histórico, pouco havia sido falado sobre fósseis e descobertas de animais como esses tornavam achados intrigantes – o que, aos poucos, foi mudando, conforme mais e mais peças do quebra-cabeças foram sendo encontradas por naturalistas e, depois, por pesquisadores em todo o mundo. 

Fóssil da mandíbula de um megalossauro – Imagem por Museu de História Natural /Alamy Stock Photo/ Reprodução de CNN Internacional 

O megalossauro é uma espécie famosa por inspirar personagens da cultura popular, como o personagem principal da série Família Dinossauros, Dino da Silva Sauro.

Muito o que se descobrir 

Apesar de 200 anos terem se passado desde essa revelação pioneira feita por Buckland, a ciência continua a realizar novas descobertas sobre os dinossauros. Novidades recentes, como um fóssil brasileiro que detalha o crescimento desses animais e a revelação da primeira laringe de dinossauro em 2023, ilustram o constante avanço do entendimento da comunidade científica sobre esse tipo de animal. 

A reconstrução de 1854 no Crystal Palace Park guiada por Richard Owen apresenta o Megalosaurus como um quadrúpede; reconstruções modernas tornam-no bípede, como a maioria dos animais terópodes – Imagem por Wikimedia Commons 

Dinossauria”: um dos marcos da Paleontologia 

É referenciado na literatura científica que a Paleontologia teve um de seus marcos mais expressivos a partir da criação do termo “Dinossauria”, em 1842. A palavra foi cunhada pelo cientista Richard Owen (1804-1892), influenciado pela descoberta de ossos fossilizados, entre eles o do magalossauro. 

Owen introduziu o termo “Dinossauria”, derivado do grego “deinos”, que significa “terrível”, e “sauros”, que se traduz como “lagarto”. Essa nomenclatura tornou-se fundamental na classificação desses seres pré-históricos e na identificação de uma classe única de répteis que dominou o planeta durante o período Mesozoico (entre 251 milhões de anos e 65,5 milhões de anos). Além da importância taxonômica, é inegável que a palavra estendeu seus impactos para muito além dos círculos científicos, uma vez que representa um segmento da árvore da vida na Terra que chama a atenção das pessoas desde muito tempo.  

A descoberta e a subsequente definição de “Dinossauria” por Owen permitiram uma melhor compreensão da evolução e diversidade desses animais extintos. Ao categorizá-los em um grupo distinto, os paleontólogos puderam estudar e reconstruir os hábitos, a anatomia e o comportamento dos dinossauros, desvendando segredos sobre o passado mais remoto da Terra.

Em 1888, o paleontólogo britânico Harry Seeley classificou os dinossauros em dois principais grupos, Saurischia (saurísquios) e Ornithischia (ornitísquios), fundamentados nas diferenças encontradas em suas estruturas pélvicas. Os saurísquios, cujo nome deriva do grego para “quadris de lagarto”, mantiveram a configuração pélvica similar à de seus ancestrais, com o osso púbico direcionado para frente. 

Por outro lado, os ornitísquios, nomeados a partir do grego para “quadris de ave”, exibiram uma pelve que lembrava superficialmente a das aves, com o púbis voltado para trás. No entanto, apesar dessa semelhança, não foram os ornitísquios que originaram as aves, mas sim os saurísquios.

Cladograma, representação que mostra as relações entre os grupos a partir do segmento maior, o Archosauria, que dá origem aos dinossauros – Imagem por Brusatte et al., 2010

Recorde dos dinossauros do Rio Grande do Sul 

No Rio Grande do Sul, no sul do Brasil, estão os fósseis de dinossauros mais antigos já descobertos. A região central do RS, inclusive, conquistou um lugar no livro dos recordes, o Guinness, como o local dos “primeiros dinossauros” (considerado sua datação e não o momento da descoberta dos fósseis). 

Este título reconhece a Formação de Santa Maria como berço dessa fauna pré-histórica. Embora a datação exata dos fósseis seja um desafio para os pesquisadores, a idade das rochas onde foram encontrados é mensurável. De acordo com especialistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e da Universidade de São Paulo (USP), os cristais de zircão encontrados nas rochas datam de 233,2 milhões de anos, situando esses fósseis na Idade Ladiniana do final do período Triássico.

Saturnalia tupiniquim, em representação artística de paleodesigner – Imagem por Rodolfo Nogueira 

O reconhecimento no Guinness foi resultado do trabalho da equipe do projeto Dino Origin, que submeteu dados e evidências locais para análise por paleontólogos independentes. Entre as espécies descobertas na Formação Santa Maria estão Saturnalia tupiniquim, Nhandumirim waldsangae, Buriolestes schultzi, Pampadromaeus barberenai, Bagualosaurus agudoensis, Gnathovorax cabreirai e Staurikosaurus pricei. Com exceção de alguns carnívoros como Buriolestes, o Estauricossauro e Gnathovorax, a maioria eram bípedes herbívoros, ligeiramente menores que os famosos gigantes como Carnotaurus sastrei e Tyrannosaurus rex.

Apesar do recorde, há outros candidatos à posição de local dos dinossauros mais antigos. A Formação Ischigualasto, na atual Argentina, e fósseis datados em 243 milhões de anos, na atual Tanzânia (na África), são desafiadores da atual posição atribuída ao Rio Grande do Sul.

Conforme informações divulgadas pela Agência Brasil, em entrevista em 2023, o paleontólogo Rodrigo Muller, da Universidade Federal de Santa Maria, contou que a formação Santa Maria fica na transição geológica entre o planalto e o pampa gaúchos — uma região montanhosa, onde rochas muito antigas estão expostas na superfície. Os fósseis encontrados na região são de dinossauros pouco conhecidos do público (lista acima), e que ainda não eram tão grandes quanto os dinos mais populares. 

Paleontologia, uma ciência ampla 

A descoberta do primeiro dinossauro é importante para a Paleontologia, mas essa ciência é mais ampla do que apenas a investigação sobre este grupo de animais. Enquanto campo de estudo, a Paleontologia tem propósitos amplos e dedica-se a tentar compreender os seres vivos do passado por meio dos seus vestígios, como fósseis, pegadas, e até mesmo impressões deixadas em rochas. Isso inclui tentar montar as peças do quebra-cabeças da história da vida na Terra, incluindo a evolução, a diversificação e a extinção das espécies ao longo do tempo geológico.

Existem diversas áreas de estudo dentro da Paleontologia, algumas das principais incluem:

Paleobotânica: Estudo dos restos de plantas fossilizadas, incluindo árvores, flores, pólen e esporos.

Paleozoologia: Foco no estudo de animais extintos, incluindo mamíferos, dinossauros, répteis marinhos, aves pré-históricas, entre outros.

Paleoecologia: Analisa as relações entre os organismos antigos e seu ambiente, incluindo os hábitos alimentares, as interações entre as espécies e as condições climáticas e geográficas do passado.

Tafonomia: Estudo dos processos de fossilização, incluindo como os organismos se decompõem, são preservados e fossilizados ao longo do tempo.

Micropaleontologia: Concentra-se no estudo de fósseis microscópicos, como pequenos organismos marinhos e microfósseis encontrados em rochas.

Paleogeografia: Investigação das mudanças na distribuição geográfica dos continentes e dos ambientes terrestres ao longo do tempo geológico.

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Edição: Notícia dos Vales