Catálogo de plantas ameaçadas de extinção no Brasil completa 10 anos  

Há uma década, em 3 dezembro de 2013, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ) lançou, por meio do Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora), o Livro Vermelho da Flora do Brasil. A publicação foi um marco, ao reunir, organizar e disponibilizar pela primeira vez, para toda a sociedade, o conhecimento produzido pelos cientistas até aquele momento sobre o estado de conservação das espécies de plantas brasileiras.

Para falar do Livro Vermelho, é preciso lembrar também da Lista Oficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção publicada em dezembro de 2014, pois ambos resultaram do mesmo trabalho, que se desenvolveu a partir da criação, em dezembro de 2008, do Centro Nacional de Conservação da Flora – CNCFlora, no âmbito da Diretoria de Pesquisa Científica do JBRJ. O Centro foi criado com a missão de prevenir a extinção de espécies da flora brasileira, tarefa atribuída ao JBRJ pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA).

“Após recebermos o mandato do Ministério, nosso primeiro trabalho foi o de avaliar o estado de conservação das espécies para subsidiar a Lista Oficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçada de Extinção. Isso foi feito e enviado, com toda a documentação, para o MMA”, conta o coordenador geral do CNCFlora, Gustavo Martinelli.

A Lista é um documento com efeitos legais para proteção dessas espécies, publicada, por meio de portaria, pelo MMA, e atualizada periodicamente. O Livro, por sua vez, é um produto acadêmico, apresentando fotos, mapas, artigos e mais informações sobre cada espécie, e foi publicado antes mesmo da lista oficial.

O trabalho contou com a colaboração de cerca de 200 especialistas, brasileiros e estrangeiros. Foi preciso desenvolver um sistema para permitir que eles trabalhassem online na avaliação de 4.617 espécies da flora brasileira que já se encontravam em diferentes listas de ameaça. Desse conjunto, eles concluíram que 2.118 espécies estavam efetivamente ameaçadas de extinção – número que resultou de uma aplicação rigorosa dos critérios e categorias da International Union for Conservation of Nature (IUCN).

Organizado pelos pesquisadores Gustavo Martinelli e Miguel Avila Moraes e editado por Andrea Jakobsson Estúdio, o Livro Vermelho recebeu, em 2014, o Prêmio Jabuti na categoria “Ciências naturais”, um reconhecimento de sua importância e qualidade. O sucesso do livro culminou com o reconhecimento, pela IUCN, do CNCFlora como autoridade em listas vermelhas no Brasil, o que significa que as avaliações feitas pelo Centro passaram a ser incorporadas também à lista vermelha daquela organização internacional.

Nesses dez anos, houve grande progresso na área de botânica e conservação no país. Martinelli lembra que, quando o trabalho de avaliação começou, ainda não existia nem mesmo uma listagem consolidada de todas as espécies nativas do território brasileiro conhecidas pela Ciência até então, com seus nomes científicos validados, o que tornava o trabalho bastante difícil. “Por isso, os primeiros recursos que recebemos do GEF Pro-Bio II foram para contribuir com o projeto da Lista da Flora do Brasil”, relata Martinelli.

A Lista da Flora do Brasil depois evoluiu para a atual Flora e Funga do Brasil, com quase 49 mil espécies nativas do território brasileiro catalogadas. “Hoje os sistemas do CNCFlora e da Flora e Funga são integrados. Quando o especialista atualiza os dados em uma das plataformas, automaticamente a outra também é atualizada”, diz Martinelli.

Em 2014, o CNCFlora publicou também o Livro Vermelho da Flora do Brasil – Plantas Raras do Cerrado e, em 2018, o Livro Vermelho da Flora Endêmica do Estado do Rio de Janeiro. O trabalho de avaliar o estado de conservação das espécies da flora brasileira ameaçada de extinção continua, inclusive com expedições a campo para coletar espécies e obter mais informações que sirvam de base para novas avaliações.

Araucaria angustifolia é uma das espécies ameaçadas – Foto por Germano Roberto Schüür/Reprodução Wikimedia Commons 

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Edição: Notícia dos Vales